A
senhora Maria das Graças Nunes Vieira viveu 40 de seus 55 anos “junto às almas”
do Cemitério do Socorro, como ela mesma gosta de lembrar. Desde os 15 anos ela
tira a maior parte da renda da família no trabalho entorno do campo-santo.
Professora, ela se acostumou com o trabalho de zeladora de tal forma que
confidenciou sentir-se mais a vontade com os mortos do que com os vivos.
Tudo
começou ainda na adolescência quando alguém pediu para que ela limpasse a
imagem de um anjo em um dos túmulos. Ela contou que após o pai deixar a mãe com
ela e mais três irmãos, viu nessa simples tarefa, uma maneira de ajudar nas
despesas de casa.
“A
gente não tinha nenhuma sobrevivência, apenas uma cacimba. Todo dia a gente ia
pegar um balde de água e lavar uns anjos que tinha nesse túmulo”, conta.
“Passou uma pessoa e disse pra colocar uns baldinhos numa cova dizendo ela que
daria dinheiro. E começou assim e nós somos os primeiros aguadores daqui. A
partir daí foram chegando mais pessoas”, relata.
Maria
das Graças diz que hoje a situação está mais complicada, visto que outras
tantas pessoas descobriram o ofício de zelar os túmulos. “Não dá para tirar um
bom dinheiro porque agora tem gente demais. Agora tem muita gente e tem aquela
ambição que existe em todo canto. Mas o sol nasce para todos”, diz.
Os
valores para cuidar dos túmulos são dos mais variados, ficando entre os vinte e
trinta e cinco reais. “A gente faz esse serviço e, no final do mês, eles pagam
vinte, trinta reais, dependendo do tamanho da cova”, afirma Maria das Graças.
“Até hoje, eu vou
lhe dizer, tudo que eu tenho foram as almas que me deram. Eu sou professora,
mas meu diploma quem me deu foram as almas porque foi dai de dentro o meu
sustento. Eu sai de dentro do cemitério”, encerra ela satisfeita com o ofício
que exerce desde a tenra idade.
Fonte: Miséria.
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