Cerca
de 400 pessoas com necessidades especiais podem ficar desassistidas caso a
Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais (Apae) de Fortaleza feche as
portas este ano. A possibilidade é relatada pelas pedagogas Maristela Alencar,
73, e Maria Lúcia Barbosa, 72, que trabalham voluntariamente na entidade
filantrópica desde a sua criação, no ano de 1972.
Recursos financeiros são poucos. Segundo elas,
quase não dão para custear a manutenção do espaço, muito menos para pagar os
honorários dos 65 funcionários responsáveis pelas diferentes unidades de
atendimento da instituição. “Sem os técnicos a gente não faz o essencial”,
admite Maristela Alencar. A crise, ela conta, se agravou após mudanças das
políticas públicas educacionais a níveis federal, estadual e municipal, que
passaram a inserir o sistema educacional inclusivo na rede regular de ensino.
“Não tem aparato que dê condição à escola regular
de receber grande parte dessas crianças. É preciso um complemento, um
atendimento”, relata a professora. Ela explica que a medida fez com que o
Governo deixasse de considerar a Apae uma entidade estudantil, diminuindo,
assim, os recursos financeiros destinados à associação para este segmento.
Mônica Pinheiro, 54, especialista em marketing, é
mãe da Sabrina, de 27 anos, portadora de síndrome de Down. Ela faz parte das
dezenas de pais que estão à procura de alternativas para manter a Apae em
funcionamento. “Essa proposta (do governo) é muito interessante, mas não
elimina as escolas especiais. Fortaleza é muito carente de escolas especiais.
Eu sou uma mãe que sofro muito, porque todo dia, de quarta e quinta, minha filha
não tem para onde ir”.
O pequeno Caleb Pontes, de apenas sete meses,
também teve na Apae um rumo. Duas vezes por semana, nos braços do pai, Ronald,
21, ele é levado para a associação, onde é assistido por uma médica
especialista em crianças com deficiências intelectual e múltipla. Pego de
surpresa com a atual condição da instituição, Ronald diz que continuará levando
o filho “até onde der”.
Caos
Para a professora Maria Lúcia
Barbosa, a situação da Apae “está o caos”. Concepção que é partilhada pela também
pedagoga Olívia Goyanna, 59, presidente interina da associação e mãe da Lívia,
que é portadora de síndrome de Down. “Precisamos muito de ajuda”, revela a
pedagoga. Segundo Olívia, faltam doadores e convênios “que foram, ao longo dos
anos, cortados”.
A filha de Olívia, Lívia, não estuda em escola
regular. “Não falo mais como alguém da diretoria, mas como uma mãe que teme
que, amanhã, minha filha não tenha mais para onde ir. Estamos quase fechando as
portas. É uma realidade que temos que dizer”, desabafa a professora.
Atualmente, a Apae conta com recursos da Prefeitura
de Fortaleza e do Governo do Estado destinados ao atendimento de apenas dois
dos projetos da associação. Para se manter, a instituição pede donativos à
comunidade e vende produtos artesanais produzidos nas oficinas de capacitação.
Fonte:
Jornal O Povo.
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