Passava das 17h. A rua, que costuma ter seus
moradores nas calçadas para conversas ao fim da tarde, estava em silêncio. As
portas, fechadas. O clima era ainda de incredulidade no que aconteceu na casa
de número 94. A morte do garoto Lewdo Ricardo, de 9 anos, que supostamente
teria ingerido medicamento tranquilizante de tarja preta, deixou a vizinhança
em choque. O laudo com a causa da morte deverá ser divulgado amanhã. O corpo de
Lewdo será enterrado hoje, em Recife, Pernambuco.
O menino morreu dentro da residência, em um crime
ainda envolto em mistério, na madrugada de segunda para terça-feira (11). O
subtenente do Exército Brasileiro (EB), Francilewdo Bezerra Severino, de 45
anos, é apontado pela esposa, Cristiane Renata Coelho Severino, de 41 anos,
como responsável pela morte do filho.
Segundo a mulher, ela e o militar tiveram uma luta
corporal e ele teria dado, primeiro a ela, de cinco a seis comprimidos de
clonazepam, um anticonvulsivo tranquilizante, com vinho. Depois, teria dado o
mesmo medicamento ao garoto e, por fim, tomado ele também a droga.
A mulher desmaiou e, quando acordou, viu filho e
marido agonizando no chão da casa e gritou por socorro. O menino não resistiu e
morreu. Já o homem foi levado em estado grave e está internado, em coma, no
Hospital Geral do Exército.
Investigações
Embora internado em estado grave, o militar está
preso, e custodiado, tendo sido autuado em flagrante no 11º DP (Pan Americano)
por homicídio, lesão corporal e por violência doméstica na Lei Maria da Penha.
O caso, contudo, foi encaminhado ao 16º DP (Dias
Macêdo), na tarde de ontem.
O delegado Wilder Brito Sobreira, titular do 16º,
afirmou que há elementos que só poderão ser esclarecidos com a tomada de
depoimento tanto da mulher quanto do militar.
Dentre tais elementos, está um bilhete que foi
encontrado na cena do crime. A folha, em formato A4, está escrita de caneta e
com diversas rasuras em seu curso. Segundo o delegado, não se pode afirmar
ainda quem seria o autor do documento.
"Foi deixado no local do crime um bilhete
escrito a mão com conteúdos assemelhados ao que foi também divulgado na
internet, em rede social. Temos que avaliar se foi o Francilewdo quem escreveu.
O documento será periciado para confirmar se a letra é realmente dele ou
não", afirmou Sobreira.
O delegado comentou que o conteúdo da carta era
similar ao que surgiu no perfil do militar na rede social Facebook. Na página
online, Francilewdo justificava o crime, dizendo que "a carga tá grande
demais, e não aguento mais sofrer calado vendo essa mulher se anular há 10
anos". O militar cita uma traição supostamente cometida pela esposa.
O texto foi publicado por volta de 1h30 da
madrugada. Contudo, foi alterado por volta das 10h da manhã de ontem. No
momento da adulteração do texto, Francilewdo permanecia em coma, o que levantou
suspeitas.
"Vamos averiguar todas as hipóteses dessa
tragédia, desde que tenham razoabilidade. Não se pode adiantar mais do que já
está posto. Quem editou a mensagem? Tem alguém se passando por ele? Foi uma
simulação? Estão querendo maquiar ou esconder uma história verdadeira? Só posso
afirmar algo conversando com a mulher e, caso ele tenha melhora no quadro
clínico, conversando também com Francilewdo. Numa investigação não se vê uma
linha só", disse o delegado do 16º DP.
Cristiane também usou a internet para lamentar a
morte do filho. "Rezem, orem e nos coloquem nos seus pensamentos. Não
desejo a ninguém essa dor".
Dia a dia
Segundo os vizinhos da família, Francilewdo era
conhecido por ser um homem simpático. "Ele jogava futebol comigo",
disse um comerciante. "Era um cara tranquilo, não imagino que tenha sido
capaz de fazer essas coisas", lamentou.
Os vizinhos, contudo, dizem que Cristiane é mais
'fechada' e não costumava se comunicar. "Ele passava e dava bom dia, ou
boa tarde. Ela vinha junto, ao lado dele, e nem levantava a cabeça",
comentou um aposentado que mora na região e conhecia a família.
"Eles estavam morando aqui há menos de dois
anos. Confesso que só fiquei sabendo que tinham filhos por conta dessa
tragédia. Nunca os vi, saindo de casa ou na calçada, com as crianças",
afirmou o idoso.
Já uma mulher, também moradora do bairro, afirmou
conhecer Francilewdo desde criança. "Não consigo acreditar que ele tenha
cometido este crime", disse, afirmando estar 'abalada'.
Fonte:
Diário do Nordeste.
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