O corpo da jovem liderança Kaiowá Marinalva Manoel,
de apenas 27 anos, foi encontrado na manhã de sábado, dia 01 de novembro, às
margens da rodovia BR-163, nas imediações de Dourados, Mato Grosso do Sul. A
morte da jovem atribuiu peso de “destino premeditado” às palavras proferidas
por Daniel Vasques a representantes da Funai e Ministério da Justiça em reunião
realizada no último dia 15 de outubro em Brasília, ocasião em que Marinalva
encontrava-se presente.
Importante liderança na luta pela demarcação da Terra
Indígena de Ñu Verá e integrante do Grande Conselho Guarani-Kaiowá da Aty
Guasu, a jovem compôs a comitiva que a cerca de 15 dias atrás esteve em
Brasília para manifestar repúdio à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF)
quanto a anulação do processo de demarcação da Terra Indígena Guyraroká.
Durante a semana que estiveram na Capital Federal, os indígenas denunciaram a
relação diretamente proporcional que existe entre a tomada de posições que
geram retrocessos aos direitos constitucionais dos povos indígenas nas esferas
legislativa, executiva e judiciária e o aumento da violência direta e indireta
praticada pelos fazendeiros contra as terras dos povos originários.
Morte brutal e nada casual
A brutalidade do assassinato deixou no corpo de
Marinalva as marcas de 35 facadas que foram desferidas contra a indígena. Os
golpes acertaram a jovem nas regiões do tórax, pescoço, rosto e mão esquerda.
Estas últimas sugerem que a indígena tentou se defender do ataque. Uma vez que
o corpo da indígena foi encontrado nu, seu cadáver foi encaminhado para o
Instituto Médico Legal (lML) com o intuito de que o órgão possa comprovar
também se houve abuso sexual. O caso será investigado pela 2ª Delegacia de
Polícia de Dourados.
O Conselho da Aty Guasu emitiu uma carta direcionada
ao Ministério Publico Federal (MPF) em Dourados e à 6ª Câmara do MPF em
Brasília informando da morte da liderança Kaiowá e cobrando providências
imediatas em relação ao caso. As demandas sobre a segurança dos Guarani-Kaiowá
já foram levadas de forma direta e por diversas vezes até o Ministério da
Justiça, mas nenhuma medida foi tomada e os órgãos responsáveis continuam
completamente omissos.
Segundo as lideranças da Aty Guasu, em inúmeras
assembléias Marinalva, a respeito do que fazem também outros indígenas, vinha
relatando o aumento das ameaças e das perseguições que sofria de fazendeiros
locais e de pessoas contratadas por eles. Para as lideranças do Conselho, a
morte da jovem não se trata, portanto, de um acidente ou uma casualidade, mas é
o resultado do silêncio das autoridades em relação a uma morte muitas vezes
anunciada.
Sem lugar nem para enterrar os mortos
Sem lugar nem para enterrar os mortos
A causa pela qual Marinalva lutou ao longo de sua
vida foi sentida de maneira triste pelos parentes e amigos no momento de sua
morte. Vivendo sem terra, a comunidade não tem cemitério tradicional, e o corpo
da jovem, que deveria repousar junto à terra pela qual lutava, teve de ser
enterrado numa área de banhado. Mal a cova foi aberta, a água tomou conta do
leito de descanso improvisado para a jovem guerreira. Lágrimas de tristeza e
indignação misturavam-se pelos rostos indígenas enquanto a terra ia cobrindo
pouco a pouco o corpo.
O Conselho Indigenista Missionário (Cimi) manifesta
sua solidariedade com o povo Guarani-Kaiowá através da dor partilhada por seus
missionários e missionárias com as famílias de Nu Verá. Reafirmamos também o
compromisso na luta pela demarcação dos territórios indígenas e pelo acesso dos
povos originários a uma vida digna dentro de seus costumes e tradições. Marinalva
Manoel vive na luta da Aty Guasu e no caminhar incessante do povo
Guarani-Kaiowá. Que seus filhos colham as sementes por ela plantadas em
território de Ñu Verá.
Fonte:
Matias Benno, Cimi Regional MS.
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